Cada um de nós é por enquanto a vida. Que isso nos baste.

José Saramago

sexta-feira, 16 de novembro de 2012





perplexidades, perspectivas


Queria vê-lo dobrar a esquina e ter certeza de que ele iria sem olhar pra trás, sem guarda-chuva, no temporal. Queria ter a certeza de que ele iria.
Riu.
Riu diante do absurdo, da chuva, da madrugada que deixava a rua deserta. Riu da vida absurda, deixada numa madrugada de chuva. Riu da chuva, que absurda a deixava ensopada na janela, olhando a rua deserta e esperando vê-lo dobrar a esquina, para ter a certeza do absurdo. Da absurda vida sem ele e da chuva.
Abriu a janela e pouco se importou com a chuva, com o vento.
Espalharam-se os papéis, seus cabelos, um copo voou longe e espatifou-se no chão.
Pouco se importou.
Pouco importava a chuva, o vento, os cacos de vidro, o vinho derramado. A gripe, a pneumonia, a tuberculose. A vida ou a morte, pouco importavam.
Queria ter certeza de que ele iria.
Queria ter a certeza de que os caminhos da chuva, na vida deserta, na madrugada absurda o levariam para sempre.
E ele dobrou a esquina.

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